sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Talvez Roma não viesse a existir (Os gauleses saqueiam Roma)

Os gauleses saqueiam Roma 390 a.e.c.

Paul Joseph Jamin (1858-1903)-' Brennus e sua parte no butim'-Óleo em tela-1893 Coleção privada

As grandes migrações dos celtas


Não se sabe muito bem porque, a partir do século V antes de nossa era, os celtas. provenientes da bacia fluvial parisiense, da Alemanha, da Suiça e da Áustria, começam uma série de migrações quer para o sul, quer ao longo do Danúbio em direção do mar Negro! Em dezenas de milhares, esses guerreiros do norte, seguidos de carroças levando mulheres e crianças, invadem em ondas sucessivas a Itália, a Europa central e a Ásia Menor.

Excetuando episódios violentos, essa expansão celta não se traduz numa colonização maciça dos territórios conquistados. No século IV, é a Itália do norte (a futura GáIia Cisalpina) que é invadida, em seguida Roma e, finalmente, a costa adriática. Outros celtas avançam ao longo do Danúbio, na Iugoslávia, na Hungria, na Macedônia e na Trácia. Uma incursão de celtas chega em 279 até Delfos, cujo tesouro é em porte pilhado. Finalmente, um último grupo passa para a Ásia Menor em torno do ano 275 e se estabelece no centro da região, numa área que lhes deve seu nome, a Galícia.



Mapa da migração na península itálica.

A batalha de Ália


Busto de Breno

A tomada de sua cidade pelos celtas é vivida como uma catástrofe pelos romanos que, no inicio do século IV, estão prestes a tornar-se uma potencia italiana destacada. O próprio futuro de Roma parece realmente em jogo e, por desânimo, muitos pensam em abandonar o local da cidade.

Quando os gauleses. instalados no norte da Itália havia varias décadas, começam a descer para a Etrúria ao Lácio, os romanos não estão preparados para essa invasão, pois, a situação é extremamente confusa na Itália. Com efeito, o declínio dos etruscos foi sancionado em 395 pela tomada de sua praça-forte, Veies, pelos romanos sob o comando do grande general Camilo. Mas este, caindo em desgraça, teve de partir para o exílio em seguida, lutas interinas dividem os políticos romanos que minimizam em público o perigo do avanço celta. Depois de se apoderar de Clusium (Chiusi), à qual Roma recusou sua ajuda, os gauleses têm o campo livre. Em marcha forçada, dirigem-se para o sul, semeando o terror com seus cantos selvagens, seus gritos e seus armamentos desconhecidos. É assim que, em julho de 390, chegam à confluência do Ália com o Tibre, a somente 16 quilômetros de Roma.

Na ausência de um chefe supremo, os tribunos militares (oficiais) concordam em convocar para o combate todos os adultos válidos - ou seja, um grande número de homens, mas cuja maioria desconhece totalmente o manejo das armas. Sem plano de batalha, sem homogeneidade no comando, sem ritos religiosos propiciatórios, nada é feito segundo as regras... Por isso não é de se surpreender que, no primeiro choque, os romanos sejam vergonhosamente postos em debandada. A maioria foge sem mesmo ter combatido. Em vez de voltar para Roma, onde se encontram suas famílias, muitos preferem ir a Veies e a outras cidades das redondezas. Somente a ala direita de seu exército retoma à Urbs (a capital) e, esquecendo de fechar as portas do cidade, os soldados romanos procuram refúgio na cidadela do Capitólio.


Senadores ou estátuas?


No momento, os gauleses não ousam acreditar numa vitória tão repentina e temem uma armadilha. No final da tarde, no entanto, ales se põem em marcha para Roma, Cavaleiros enviados como batedores trazem a notícia de que a cidade está aberta e que não há nenhum vestígio de defensores! É uma nova fonte de perplexidade para os gauleses, que se contentam em tomar posição entre Roma e o rio Anio. Essa hesitação se volta finalmente em proveito daqueles que se encontram na cidade. Sucedendo ao primeiro movimento de pânico, uma atividade febril toma conta dos romanos, que consolidam as fortificações do Capitólio, para nele se encerrar, providos de armas e alimentos. Ao mesmo tempo, os sacerdotes se preocupam em pôr ao abrigo os "objetos sagrados" protetores de Roma: alguns fetiches são enterrados em jarras perto do Fórum, os outros são levados pelas vestais, ou virgens que mantêm o fogo sagrado, que deixam a cidade com uma multidão de plebeus. A exceção dos homens entrincheirados no Capitólio, só permanecem então em Roma os senadores idosos, que tomaram a decisão de se oferecer em sacrifício pela patina. Cada um deles, revestido com a toga de púrpura e bordada com ouro e com as insígnias oficiais de sua função, senta-se num banco de marfim no vestíbulo de sua residência. Quando os gauleses e seu chefe Breno penetram na cidade pela porta Colina, o silêncio nas ruas desertas é impressionante. Nas casas dos senadores, os bárbaros percebem homens sentados, imóveis, trajando vestimentas brilhantes e que têm nas mãos um bastão de marfim. Supõem, de início, que se tratam de estátuas e, para assegurar-se, um deles puxa a longa barba de um dos personagens imóveis. Recebe então um golpe de bastão que o mata... É o sinal do massacre geral desses homens veneráveis e, durante vários dias, os gauleses pilham e saqueiam as casas, depois ateiam logo nelas.


"Vae victis!"

Breno, chefe gaulês, e Marco Fúrio Camilo, depois do Cerco de Roma. Ilustração de "Histoire de France en cent tableaux", por Paul Lehugeur, Paris, 1886.


Em Roma só restam os combatentes encerrados no Capitólio. Quando, cansados de saquear, os gauleses tentam escalar a colina, são rechaçados pelos sitiados. Preparam-se então para lazer o bloqueio da cidadela. Esse cerco vai durar seis ou sete meses, durante as quais a Fome reina nos dois campos. Além disso, uma epidemia assola os gauleses. Tanto sitiados como sitiantes chegam a um acordo: em troca de mil libras de ouro, os gauleses aceitam deixar a cidade. Uma última humilhação é reservada aos romanos: por ocasião da pesagem do resgate, os gauleses teriam trapaceado, utilizando pesos falsos. Diante da indignação dos negociadores romanos, Breno teria jogado sua espada no prato da balariça, exclamando: "Vae victis!" ("Ai dos vencidos!").

A vingança parcial dos romanos chega pouco depois. Com eleito, fora da cidade, os habitantes refugiados nas cidades do Lácio começaram a organizar a revanche. Anistiado e de volta do exílio, Camilo dirige as operações. De acordo com Tito Lívio, quando os bárbaros deixaram a cidade, ter-se-iam defrontado com o exército deste, que os teria posto em fuga. Mas a invasão deixa um trauma duradouro nos romanos: o horror das experiências vividas e a visão de sua cidade devastada são tão desencorajadores que vários responsáveis políticos propõem emigrar para Veies. Somente um longo discurso de Camilo, insistindo na necessidade de permanecer num local escolhido pelos deuses, persuade senadores e plebeus a reconstruir a cidade sobre seu local de origem.

Referências bibliográficas:


ARNOLD, B. e GIBSON, D. B. Celtic Chiefdom, Celtic State: Cambridge, 1995;
DAVIES, J. A. The Celts: Prehistory to the Present Day: Londres, 2000;
KING, A. Roman Gaul And Germany: Londres, 1990;
RANKIN, D. Celts And the Classical World: Londres, 1987.


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

História da língua galesa (e links)

Uma ideia sobre a língua


Juntamente com o irlandês (Gaeilge), o bretão (Brezhoneg), o gaélico escocês (Gàidhlig), o córnico (Kernewek) e o manx (Gaelg), o galês (Cymraeg) é uma língua céltica ainda falada como língua comunitária no País de Gales (Cymru), situado numa península a oeste da Grã-Bretanha, por cerca de 659.000 pessoas, sendo a maioria bilíngue, e na colônia galesa (yr Wladfa) na Patagônia, Argentina (yr Ariannin) por algumas centenas de pessoas. Há também comunidades de falantes do galês na Inglaterra (Lloegr), Escócia (yr Alban), Canadá, Estados Unidos (yr Unol Daleithiau), Austrália (Awstralia) e Nova Zelândia (Seland Newydd). Os mais antigos exemplos da literatura galesa são os poemas de Taliesin, que retratam Urien, rei e herói lendário do século VI, de Rheged, antigo reino britânico de Yr Hen Ogledd (o Velho Norte), onde atualmente é o sul da Escócia, e Y Gododdin, tradicionalmente atribuído ao bardo Aneirin, que descreve uma batalha entre Celtas e guerreiros anglos de Northumbria que teria ocorrido por volta de 600 AD. Não se sabe ao certo quando esses poemas foram compostos, nem quando foram, pela primeira vez, compilados. Antes disso, tudo o que se escrevia no País de Gales era em latim.

Galês um resquício vivo dos celtas.


Durante a Idade do Ferro, a região onde hoje se situa o País de Gales, como toda a Bretanha ao sul do estuário do Rio Forth (gaélico escocês: Linne Foirthe), foi dominada pelos Britôncos (Celtas) e pela língua britônica. Os Romanos, que iniciaram sua conquista da Bretanha em 43 AD, de início fizeram operações militares onde é atualmente o nordeste do País de Gales em 48 contra os Deceangli (uma das tribos célticas da região), e ganharam total controle da região com a derrota de outra tribo, os Ordovices em 79. Os Romanos deixaram a Bretanha no século V, abrindo as portas à invasão anglo-saxônica. A partir daí, a língua e a cultura britônicas começaram a se ramificar, e diversos grupos distintos se formaram. O povo galês era o mais numeroso dentre eles.

Diversos reinos se formaram na área atualmente denominada País de Gales no período pós-romano. Após a expansão dos Anglo-Saxões (séculos V-IX), o País de Gales era o único território céltico autônomo sobrevivente ao sul da Bretanha; durante séculos seus povos guerreavam entre si e contra os Ingleses, os Irlandeses, e os Nórdicos. No século VIII, para reforçar a defesa das fronteiras galesas, o Rei Offa de Mércia construiu uma muralha de terra entre a Inglaterra e o País de Gales, que ficou conhecida como "Dique de Offa” (galês: Clawdd Offa). No século IX, Rhoddrio o Grande (galês: Rhoddri Mawr) uniu o país pela primeira vez desd e os Romanos.

O cenário mudou abruptamente, entretanto, com a chegada d os Normandos, em 1066, liderados pelo duque de Normandia William I (ou Guilherme) o Conquistador. Como con sequência, a língua galesa foi suplantada até certo ponto, particularmente em South Pembrokeshire (galês: De Sir Benfro) e par te de Gower ou Península de Gower (galês: Gwyr or Penrhyn Gŵyr), pelo flamengo e pelo inglês.

 Figura 1: Mapa mostrando a migração dos Britônicos para o oeste durante a invasão anglo-saxônica. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Britons_(historical)

Em 1282, duran te a invasão de Eduardo I da Inglaterra, o último príncipe galês nativo, Llewelyn op Gruffydd, foi morto. Em 13 01, o filho de Eduardo foi coroado Príncipe de Gales, título de nobreza atribuído aos primogênitos dos monarc as britânicos. Historicamente, o País de Gales pode ser considerado como a primeira colônia inglesa, e serviu quase imedi atamente após a Conquista Normanda com o um trampolim para a invasão e coloniz ação da Irlanda. Em 1485, Henrique VII a ssumiu o trono inglês e o País de Gales foi efetivamente incorporado na Inglaterra , durante o reinado de Henrique VIII, pelos Atos das Leis em Gales 1535-1542 (inglê s: Laws in Wales Acts 1535 and 1542, galês : Y Deddfau Uno 1535 a 1542), que unifica ram a Inglaterra e Gales como uma só na ção, tornando o inglês a língua da admin istração pública, da educação e dos negócios. Já havia, entretanto, um código de leis galesas, Cyfraith Hywel (“As Leis de Howel”) que foi gradativamente suplantado pelas leis inglesas do século XIII e após a união as leis da Inglaterra foram aplicadas por todo o país.

Figura 2: Fragmento do manuscrito do Act of Union de 1536 entre a Inglaterra e o País de Gales.Fonte: http://www.bbc.co.uk/wales/history/sites/themes/periods/tudors_04.shtml

O galês originou-se, portanto, no século VI do britônico, o ancestral comum do galês, do bretão, do córnico e de uma língua já extinta conhecida como cúmbrio. Do mesmo modo que a maioria das línguas, há períodos identificáveis dentro da história do galês, embora as fronteiras entre elas sejam frequentemente indistintas.

O nome Welsh originou-se como um exônimo atribuído aos seus falantes pelos Anglo-Saxões, cujo significado é "estrangeiro”, que por sua vez entrou nas línguas românicas e irlandesa como gall- (cf. francês: gallois, irlandês: Galltacht, parte da Irlanda onde se fala o inglês “discurso estrangeiro”). O termo nativo para identificar a língua é Cymraeg, e Cymru para "Wales".

Os mais antigos exemplos da literatura galesa são os poemas de Taliesin, que retratam Urien de Rheged, rei do século VI na região onde atualmente é o sul da Escócia, e Y Gododdin (“Os Gododdin”) tradicionalmente atribuído ao bardo Aneirin, que sobrevive apenas em um manuscrito, conhecido como Llyfr Aneirin (“Livro de Aneirin”), escrito parcialmente em galês antigo e em galês médio. Y Gododdin é, pois, um poema medieval galês que consiste em uma série de elegias a homens do antigo reino Britânico de Gododdin e seus aliados que lutaram numa batalha no século VII. O local da batalha é referido como Catraeth, que possivelmente corresponde à moderna Catterick, no norte de Yorkshire. Essa batalha teria ocorrido por volta do ano 600.

Figura 3: Fac-símile do fragmento de um página do manuscrito do Livro de Aneirin (em galês: Llyfr Aneirin) onde aparece a descrição do rei Artur. Fonte: http://badonicus.wordpress.com/tag/y-gododdin/

Não se sabe ao certo quando esses poemas foram compostos, nem quando foram, pela primeira vez, compilados. Antes dessas duas obras citadas, tudo o que se escreveu no País de Gales foi em latim.

Hino do País de Gales


Mae hen wlad fy nhadau yn annwyl i mi,
Gwlad beirdd a chantorion, enwogion o fri;
Ei gwrol ryfelwyr, gwladgarwyr tra mâd,
Tros ryddid gollasant eu gwaed.

Gwlad, gwlad, pleidiol wyf i'm gwlad.
Tra môr yn fur i'r bur hoff bau,
O bydded i'r hen iaith barhau.
Hen Gymru fynyddig, paradwys y bardd,
Pob dyffryn, pob clogwyn i'm golwg sydd hardd;
Trwy deimlad gwladgarol, mor swynol yw si
Ei nentydd, afonydd, i mi.

Os treisiodd y gelyn fy ngwlad tan ei droed,
Mae hen iaith y Cymry mor fyw ag erioed.
Ni luddiwyd yr awen gan erchyll law brad,
Na thelyn berseiniol fy ngwlad.


Tradução

Tenho carinho pela antiga terra de meus pais,
Terra de poetas e cantores, homens famosos de renome;
Os seus bravos guerreiros, grandiosos patriotas,
Deram o seu sangue pela liberdade.

Nação, Nação, Defendo a minha nação.
Enquanto o mar guarda a pura e muito amada região,
Possa a antiga língua perdurar.
Antiga Gales montanhosa, paraíso do Bardo,
Cada vale, cada montanha é bela para mim.
Pelo sentimento patriótico, são delícias os murmúrios
Das suas torrentes e rios para mim.

Se o inimigo subjuga a minha terra sob os seus pés,
A antiga língua galesa está viva como nunca.
A musa não foi calada pela repugante mão da traição,
Nem a melodiosa harpa do meu país.



Links


Seguem alguns links para quem se interessar de alguma maneira pelo idioma. Postarei a seguir links de bandas, blogs e sites que ensinam a língua.

Eventos importantes que envolvem o espírito da cultura celta (Eisteddfod é um evento criado pelos druídas que deixa de existir no século XII e foi revivido no séc. XVII e existe até hoje:




O link da Wikipédia está bem real falando sobre a língua http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_galesa

Universidades e sites de aprendizado:








Um canal do youtube que posta músicas em galês com letra e tradução em inglês http://www.youtube.com/user/DistantDreamer93?feature=watch

Site de dois grupos que tocam algo mais tradicional e próximo disso:



Curiosidades e bobagens:

Nome de uma famosa estação de trem em galês: 


Um brasileiro falando sobre o País de Gales:


Vídeo de um galês comparando a língua com o inglês: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=YPYkYfi_IiM

Referências bibliográficas (nesse caso fonte da parte histórica da língua):

Artigo: "Alguns Aspectos fonológicos e morfossintáticos do galês" de João Bittencourt de Oliveira. (Hoje professor e atual estudando acadêmico das línguas celtas)