sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Talvez Roma não viesse a existir (Os gauleses saqueiam Roma)

Os gauleses saqueiam Roma 390 a.e.c.

Paul Joseph Jamin (1858-1903)-' Brennus e sua parte no butim'-Óleo em tela-1893 Coleção privada

As grandes migrações dos celtas


Não se sabe muito bem porque, a partir do século V antes de nossa era, os celtas. provenientes da bacia fluvial parisiense, da Alemanha, da Suiça e da Áustria, começam uma série de migrações quer para o sul, quer ao longo do Danúbio em direção do mar Negro! Em dezenas de milhares, esses guerreiros do norte, seguidos de carroças levando mulheres e crianças, invadem em ondas sucessivas a Itália, a Europa central e a Ásia Menor.

Excetuando episódios violentos, essa expansão celta não se traduz numa colonização maciça dos territórios conquistados. No século IV, é a Itália do norte (a futura GáIia Cisalpina) que é invadida, em seguida Roma e, finalmente, a costa adriática. Outros celtas avançam ao longo do Danúbio, na Iugoslávia, na Hungria, na Macedônia e na Trácia. Uma incursão de celtas chega em 279 até Delfos, cujo tesouro é em porte pilhado. Finalmente, um último grupo passa para a Ásia Menor em torno do ano 275 e se estabelece no centro da região, numa área que lhes deve seu nome, a Galícia.



Mapa da migração na península itálica.

A batalha de Ália


Busto de Breno

A tomada de sua cidade pelos celtas é vivida como uma catástrofe pelos romanos que, no inicio do século IV, estão prestes a tornar-se uma potencia italiana destacada. O próprio futuro de Roma parece realmente em jogo e, por desânimo, muitos pensam em abandonar o local da cidade.

Quando os gauleses. instalados no norte da Itália havia varias décadas, começam a descer para a Etrúria ao Lácio, os romanos não estão preparados para essa invasão, pois, a situação é extremamente confusa na Itália. Com efeito, o declínio dos etruscos foi sancionado em 395 pela tomada de sua praça-forte, Veies, pelos romanos sob o comando do grande general Camilo. Mas este, caindo em desgraça, teve de partir para o exílio em seguida, lutas interinas dividem os políticos romanos que minimizam em público o perigo do avanço celta. Depois de se apoderar de Clusium (Chiusi), à qual Roma recusou sua ajuda, os gauleses têm o campo livre. Em marcha forçada, dirigem-se para o sul, semeando o terror com seus cantos selvagens, seus gritos e seus armamentos desconhecidos. É assim que, em julho de 390, chegam à confluência do Ália com o Tibre, a somente 16 quilômetros de Roma.

Na ausência de um chefe supremo, os tribunos militares (oficiais) concordam em convocar para o combate todos os adultos válidos - ou seja, um grande número de homens, mas cuja maioria desconhece totalmente o manejo das armas. Sem plano de batalha, sem homogeneidade no comando, sem ritos religiosos propiciatórios, nada é feito segundo as regras... Por isso não é de se surpreender que, no primeiro choque, os romanos sejam vergonhosamente postos em debandada. A maioria foge sem mesmo ter combatido. Em vez de voltar para Roma, onde se encontram suas famílias, muitos preferem ir a Veies e a outras cidades das redondezas. Somente a ala direita de seu exército retoma à Urbs (a capital) e, esquecendo de fechar as portas do cidade, os soldados romanos procuram refúgio na cidadela do Capitólio.


Senadores ou estátuas?


No momento, os gauleses não ousam acreditar numa vitória tão repentina e temem uma armadilha. No final da tarde, no entanto, ales se põem em marcha para Roma, Cavaleiros enviados como batedores trazem a notícia de que a cidade está aberta e que não há nenhum vestígio de defensores! É uma nova fonte de perplexidade para os gauleses, que se contentam em tomar posição entre Roma e o rio Anio. Essa hesitação se volta finalmente em proveito daqueles que se encontram na cidade. Sucedendo ao primeiro movimento de pânico, uma atividade febril toma conta dos romanos, que consolidam as fortificações do Capitólio, para nele se encerrar, providos de armas e alimentos. Ao mesmo tempo, os sacerdotes se preocupam em pôr ao abrigo os "objetos sagrados" protetores de Roma: alguns fetiches são enterrados em jarras perto do Fórum, os outros são levados pelas vestais, ou virgens que mantêm o fogo sagrado, que deixam a cidade com uma multidão de plebeus. A exceção dos homens entrincheirados no Capitólio, só permanecem então em Roma os senadores idosos, que tomaram a decisão de se oferecer em sacrifício pela patina. Cada um deles, revestido com a toga de púrpura e bordada com ouro e com as insígnias oficiais de sua função, senta-se num banco de marfim no vestíbulo de sua residência. Quando os gauleses e seu chefe Breno penetram na cidade pela porta Colina, o silêncio nas ruas desertas é impressionante. Nas casas dos senadores, os bárbaros percebem homens sentados, imóveis, trajando vestimentas brilhantes e que têm nas mãos um bastão de marfim. Supõem, de início, que se tratam de estátuas e, para assegurar-se, um deles puxa a longa barba de um dos personagens imóveis. Recebe então um golpe de bastão que o mata... É o sinal do massacre geral desses homens veneráveis e, durante vários dias, os gauleses pilham e saqueiam as casas, depois ateiam logo nelas.


"Vae victis!"

Breno, chefe gaulês, e Marco Fúrio Camilo, depois do Cerco de Roma. Ilustração de "Histoire de France en cent tableaux", por Paul Lehugeur, Paris, 1886.


Em Roma só restam os combatentes encerrados no Capitólio. Quando, cansados de saquear, os gauleses tentam escalar a colina, são rechaçados pelos sitiados. Preparam-se então para lazer o bloqueio da cidadela. Esse cerco vai durar seis ou sete meses, durante as quais a Fome reina nos dois campos. Além disso, uma epidemia assola os gauleses. Tanto sitiados como sitiantes chegam a um acordo: em troca de mil libras de ouro, os gauleses aceitam deixar a cidade. Uma última humilhação é reservada aos romanos: por ocasião da pesagem do resgate, os gauleses teriam trapaceado, utilizando pesos falsos. Diante da indignação dos negociadores romanos, Breno teria jogado sua espada no prato da balariça, exclamando: "Vae victis!" ("Ai dos vencidos!").

A vingança parcial dos romanos chega pouco depois. Com eleito, fora da cidade, os habitantes refugiados nas cidades do Lácio começaram a organizar a revanche. Anistiado e de volta do exílio, Camilo dirige as operações. De acordo com Tito Lívio, quando os bárbaros deixaram a cidade, ter-se-iam defrontado com o exército deste, que os teria posto em fuga. Mas a invasão deixa um trauma duradouro nos romanos: o horror das experiências vividas e a visão de sua cidade devastada são tão desencorajadores que vários responsáveis políticos propõem emigrar para Veies. Somente um longo discurso de Camilo, insistindo na necessidade de permanecer num local escolhido pelos deuses, persuade senadores e plebeus a reconstruir a cidade sobre seu local de origem.

Referências bibliográficas:


ARNOLD, B. e GIBSON, D. B. Celtic Chiefdom, Celtic State: Cambridge, 1995;
DAVIES, J. A. The Celts: Prehistory to the Present Day: Londres, 2000;
KING, A. Roman Gaul And Germany: Londres, 1990;
RANKIN, D. Celts And the Classical World: Londres, 1987.


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

História da língua galesa (e links)

Uma ideia sobre a língua


Juntamente com o irlandês (Gaeilge), o bretão (Brezhoneg), o gaélico escocês (Gàidhlig), o córnico (Kernewek) e o manx (Gaelg), o galês (Cymraeg) é uma língua céltica ainda falada como língua comunitária no País de Gales (Cymru), situado numa península a oeste da Grã-Bretanha, por cerca de 659.000 pessoas, sendo a maioria bilíngue, e na colônia galesa (yr Wladfa) na Patagônia, Argentina (yr Ariannin) por algumas centenas de pessoas. Há também comunidades de falantes do galês na Inglaterra (Lloegr), Escócia (yr Alban), Canadá, Estados Unidos (yr Unol Daleithiau), Austrália (Awstralia) e Nova Zelândia (Seland Newydd). Os mais antigos exemplos da literatura galesa são os poemas de Taliesin, que retratam Urien, rei e herói lendário do século VI, de Rheged, antigo reino britânico de Yr Hen Ogledd (o Velho Norte), onde atualmente é o sul da Escócia, e Y Gododdin, tradicionalmente atribuído ao bardo Aneirin, que descreve uma batalha entre Celtas e guerreiros anglos de Northumbria que teria ocorrido por volta de 600 AD. Não se sabe ao certo quando esses poemas foram compostos, nem quando foram, pela primeira vez, compilados. Antes disso, tudo o que se escrevia no País de Gales era em latim.

Galês um resquício vivo dos celtas.


Durante a Idade do Ferro, a região onde hoje se situa o País de Gales, como toda a Bretanha ao sul do estuário do Rio Forth (gaélico escocês: Linne Foirthe), foi dominada pelos Britôncos (Celtas) e pela língua britônica. Os Romanos, que iniciaram sua conquista da Bretanha em 43 AD, de início fizeram operações militares onde é atualmente o nordeste do País de Gales em 48 contra os Deceangli (uma das tribos célticas da região), e ganharam total controle da região com a derrota de outra tribo, os Ordovices em 79. Os Romanos deixaram a Bretanha no século V, abrindo as portas à invasão anglo-saxônica. A partir daí, a língua e a cultura britônicas começaram a se ramificar, e diversos grupos distintos se formaram. O povo galês era o mais numeroso dentre eles.

Diversos reinos se formaram na área atualmente denominada País de Gales no período pós-romano. Após a expansão dos Anglo-Saxões (séculos V-IX), o País de Gales era o único território céltico autônomo sobrevivente ao sul da Bretanha; durante séculos seus povos guerreavam entre si e contra os Ingleses, os Irlandeses, e os Nórdicos. No século VIII, para reforçar a defesa das fronteiras galesas, o Rei Offa de Mércia construiu uma muralha de terra entre a Inglaterra e o País de Gales, que ficou conhecida como "Dique de Offa” (galês: Clawdd Offa). No século IX, Rhoddrio o Grande (galês: Rhoddri Mawr) uniu o país pela primeira vez desd e os Romanos.

O cenário mudou abruptamente, entretanto, com a chegada d os Normandos, em 1066, liderados pelo duque de Normandia William I (ou Guilherme) o Conquistador. Como con sequência, a língua galesa foi suplantada até certo ponto, particularmente em South Pembrokeshire (galês: De Sir Benfro) e par te de Gower ou Península de Gower (galês: Gwyr or Penrhyn Gŵyr), pelo flamengo e pelo inglês.

 Figura 1: Mapa mostrando a migração dos Britônicos para o oeste durante a invasão anglo-saxônica. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Britons_(historical)

Em 1282, duran te a invasão de Eduardo I da Inglaterra, o último príncipe galês nativo, Llewelyn op Gruffydd, foi morto. Em 13 01, o filho de Eduardo foi coroado Príncipe de Gales, título de nobreza atribuído aos primogênitos dos monarc as britânicos. Historicamente, o País de Gales pode ser considerado como a primeira colônia inglesa, e serviu quase imedi atamente após a Conquista Normanda com o um trampolim para a invasão e coloniz ação da Irlanda. Em 1485, Henrique VII a ssumiu o trono inglês e o País de Gales foi efetivamente incorporado na Inglaterra , durante o reinado de Henrique VIII, pelos Atos das Leis em Gales 1535-1542 (inglê s: Laws in Wales Acts 1535 and 1542, galês : Y Deddfau Uno 1535 a 1542), que unifica ram a Inglaterra e Gales como uma só na ção, tornando o inglês a língua da admin istração pública, da educação e dos negócios. Já havia, entretanto, um código de leis galesas, Cyfraith Hywel (“As Leis de Howel”) que foi gradativamente suplantado pelas leis inglesas do século XIII e após a união as leis da Inglaterra foram aplicadas por todo o país.

Figura 2: Fragmento do manuscrito do Act of Union de 1536 entre a Inglaterra e o País de Gales.Fonte: http://www.bbc.co.uk/wales/history/sites/themes/periods/tudors_04.shtml

O galês originou-se, portanto, no século VI do britônico, o ancestral comum do galês, do bretão, do córnico e de uma língua já extinta conhecida como cúmbrio. Do mesmo modo que a maioria das línguas, há períodos identificáveis dentro da história do galês, embora as fronteiras entre elas sejam frequentemente indistintas.

O nome Welsh originou-se como um exônimo atribuído aos seus falantes pelos Anglo-Saxões, cujo significado é "estrangeiro”, que por sua vez entrou nas línguas românicas e irlandesa como gall- (cf. francês: gallois, irlandês: Galltacht, parte da Irlanda onde se fala o inglês “discurso estrangeiro”). O termo nativo para identificar a língua é Cymraeg, e Cymru para "Wales".

Os mais antigos exemplos da literatura galesa são os poemas de Taliesin, que retratam Urien de Rheged, rei do século VI na região onde atualmente é o sul da Escócia, e Y Gododdin (“Os Gododdin”) tradicionalmente atribuído ao bardo Aneirin, que sobrevive apenas em um manuscrito, conhecido como Llyfr Aneirin (“Livro de Aneirin”), escrito parcialmente em galês antigo e em galês médio. Y Gododdin é, pois, um poema medieval galês que consiste em uma série de elegias a homens do antigo reino Britânico de Gododdin e seus aliados que lutaram numa batalha no século VII. O local da batalha é referido como Catraeth, que possivelmente corresponde à moderna Catterick, no norte de Yorkshire. Essa batalha teria ocorrido por volta do ano 600.

Figura 3: Fac-símile do fragmento de um página do manuscrito do Livro de Aneirin (em galês: Llyfr Aneirin) onde aparece a descrição do rei Artur. Fonte: http://badonicus.wordpress.com/tag/y-gododdin/

Não se sabe ao certo quando esses poemas foram compostos, nem quando foram, pela primeira vez, compilados. Antes dessas duas obras citadas, tudo o que se escreveu no País de Gales foi em latim.

Hino do País de Gales


Mae hen wlad fy nhadau yn annwyl i mi,
Gwlad beirdd a chantorion, enwogion o fri;
Ei gwrol ryfelwyr, gwladgarwyr tra mâd,
Tros ryddid gollasant eu gwaed.

Gwlad, gwlad, pleidiol wyf i'm gwlad.
Tra môr yn fur i'r bur hoff bau,
O bydded i'r hen iaith barhau.
Hen Gymru fynyddig, paradwys y bardd,
Pob dyffryn, pob clogwyn i'm golwg sydd hardd;
Trwy deimlad gwladgarol, mor swynol yw si
Ei nentydd, afonydd, i mi.

Os treisiodd y gelyn fy ngwlad tan ei droed,
Mae hen iaith y Cymry mor fyw ag erioed.
Ni luddiwyd yr awen gan erchyll law brad,
Na thelyn berseiniol fy ngwlad.


Tradução

Tenho carinho pela antiga terra de meus pais,
Terra de poetas e cantores, homens famosos de renome;
Os seus bravos guerreiros, grandiosos patriotas,
Deram o seu sangue pela liberdade.

Nação, Nação, Defendo a minha nação.
Enquanto o mar guarda a pura e muito amada região,
Possa a antiga língua perdurar.
Antiga Gales montanhosa, paraíso do Bardo,
Cada vale, cada montanha é bela para mim.
Pelo sentimento patriótico, são delícias os murmúrios
Das suas torrentes e rios para mim.

Se o inimigo subjuga a minha terra sob os seus pés,
A antiga língua galesa está viva como nunca.
A musa não foi calada pela repugante mão da traição,
Nem a melodiosa harpa do meu país.



Links


Seguem alguns links para quem se interessar de alguma maneira pelo idioma. Postarei a seguir links de bandas, blogs e sites que ensinam a língua.

Eventos importantes que envolvem o espírito da cultura celta (Eisteddfod é um evento criado pelos druídas que deixa de existir no século XII e foi revivido no séc. XVII e existe até hoje:




O link da Wikipédia está bem real falando sobre a língua http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_galesa

Universidades e sites de aprendizado:








Um canal do youtube que posta músicas em galês com letra e tradução em inglês http://www.youtube.com/user/DistantDreamer93?feature=watch

Site de dois grupos que tocam algo mais tradicional e próximo disso:



Curiosidades e bobagens:

Nome de uma famosa estação de trem em galês: 


Um brasileiro falando sobre o País de Gales:


Vídeo de um galês comparando a língua com o inglês: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=YPYkYfi_IiM

Referências bibliográficas (nesse caso fonte da parte histórica da língua):

Artigo: "Alguns Aspectos fonológicos e morfossintáticos do galês" de João Bittencourt de Oliveira. (Hoje professor e atual estudando acadêmico das línguas celtas)


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Macha um nome comum

Macha um nome comum com várias facetas mitológicas e um faceta histórica.

Macha é um nome que podemos encontrar por todas as facetas, histórica, literária e religiosa da Irlanda, é um nome comum onde alguns dos leitores lembrarão de Macha filha de Partholón, que de acordo com o Lebor Gabála Érenn (Livro das Invasões da Irlanda) é a sexta geração de Noé, seu pai foi líder do primeiro povoamento da Irlanda após o dilúvio.

Ou podemos lembrar de Macha como a esposa de Nemed, líder do segundo povoamento da Irlanda depois do dilúvio. Ela foi a primeira do povo de Nemed a morrer na Irlanda, dizem ter dado o seu nome para a cidade de Armagh (Ard Mhacha-"lugar alto de Macha") - onde ela foi enterrada. Sobre ela encontramos informações nos Anais dos Quatro Mestres (The Annals of the Four Masters)

Há também Macha filha de Delbáeth e Ernmas, dos Tuatha De Danann, que aparece em muitas fontes iniciais. Muitas vezes mencionada junto com suas irmãs, "Badb e Morrigu, cujo nome era Anand", era também esposa de Nuada da Mão de Prata. As três deusas (com vários nomes) são muitas vezes consideradas uma deusa tríplice associadas com a guerra. No glossário de O'Mulconry, compilação de glosas dos manuscritos medievais preservados no Livro Amarelo da Lecan, descreve Macha como "uma das três morrígna" (o plural de Morrígan), e diz que o termo Machae Mesrad ", o mastro/tronco [colheita de bolotas] de Macha" , refere-se "as cabeças dos homens que foram abatidos." A versão do mesmo glosário em MS H.3.18 identifica Macha com Badb e 
Morrígan  chamando-as de o trio "mulheres corvo", que instigam a batalha. É descrito que Macha foi morta por Balor do Olho Maligno durante a batalha com os Fomorianos.
Sobre Macha deusa tríplice da guerra encontramos nos textos do Lebor Gabála Érenn (Livro das Invasões da Irlanda), Cét-chath Maige Tuired (Primeira Batalha de Magh Turedh) e Cath Maighe Tuireadh Cunga (Batalha de Magh Turedh em Cong).

Uma quarta Macha é a esposa de Cruinniuc, filha de Sainrith mac Imbaith. Cruinniuc, era um fazendeiro de Ulster. Após a morte primeira esposa de Cruinniuc, ela, Macha, apareceu em sua casa e, sem falar, começou a viver como sua esposa. Enquanto eles estavam juntos a riqueza de Cruinniuc aumentou. Quando ele foi para um festival organizado pelo rei de Ulster, ela avisou que só ficaria com ele, desde que ele não mencionasse sobre ela para qualquer um, e assim foi prometido. No entanto, durante a corrida de bigas, ele se gabou de que sua esposa poderia correr mais rápido que os cavalos do rei. O rei ouviu, e exigiu que ela fosse trazida para colocar o vangloriamento de seu marido em teste. Apesar de estar grávida, ela correu com os cavalos e os venceu, acabou assim dando a luz a gêmeos na linha de chegada. Posteriormente, a capital do Ulster foi chamada Emain Macha, ou "par/gêmeos de Macha" (essa história entra em conflito com a que darei mais foco adiante, segundo a qual Emain Macha foi nomeado depois do "broche do pescoço de Macha"). Ela amaldiçoou os homens de Ulster a sofrer suas dores de parto na hora de sua maior necessidade, razão pela qual nenhum dos homens de Ulster, e somente o semi-divino herói Cúchulainn, foram capazes de lutar em Cúailnge Tain Bo (Cattle Raid de Cooley). Esta Macha está particularmente associado com cavalos, talvez seja significativo que os potros gêmeos tenham nascidos no mesmo dia em que Cúchulainn, e que uma de suas carruagens-cavalos foi chamada/o Liath Macha ou "Macha Cinza". Ela, Deusa Macha é frequentemente comparada com as figuras mitológicas da Rhiannon galesa ou da Epona gaulesa.


"Macha amaldiçoando os homens de Ulster", ilustrado por Stephen Reid, de Eleanor Hull, The Boys' Cuchulainn de 1904

Passado um resumo sobre todas Machas acima venho aqui citar uma que muito me interessa gera curiosidade e tem chegado a nós com algum embasamento histórico, sendo uma personagem humana, Macha Mong Ruad.

Macha Mong Ruad

Macha Mong Ruad ("cabeleira/cabelo vermelha/o"), filha de Áed Ruad, foi, segundo a lenda medieval e tradição histórica, a única rainha na Lista dos Altos Reis da Irlanda. Seu pai dividia o reinado com seus primos Díthorba e Cimbáeth, sete anos de cada vez. Áed morreu depois de sua terceira temporada como rei, e quando chegou a sua vez novamente, Macha reivindicou a realeza. Díthorba e Cimbáeth se recusram a permitir que uma mulher tomasse o trono, e uma batalha se seguiu. Macha ganhou, e Díthorba foi morto. Ela ganhou uma segunda batalha contra os filhos de Díthorba, que fugiram para a vastidão de Connacht. Se casou com Cimbáeth tomando-o para sí, com quem ela dividia o reino. Após o casamento perseguiu os filhos de Díthorba sozinha, disfarçada como uma leprosa, e superou cada um deles quando eles tentaram fazer sexo com ela, os amarrou e levou os três pessoalmente para Ulster. Os homens de Ulster queriam tê-los matado, mas Macha os escravizou e obrigou-os a construir a fortaleza de Emain Macha (Navan Fort perto de Armagh), para ser a capital do Ulaid (Ulster), marcando as suas fronteiras (ou o monte central da fortaleza) com o seu broche (explicando o nome Emain Macha como eo-muin Macha ou "Broche do pescoço de Macha" {será citado mais a frente} ). Macha governou juntamente com Cimbáeth por sete anos, até que ele morreu de peste em Emain Macha, e depois mais 14 anos por conta própria, até que ela foi morta por Rechtaid Rígderg. O Lebor Gabála sincroniza o seu reinado ao de Ptolomeu I Soter (323-283 a.C.). A cronologia de Keating Foras Feasa ar Éirinn data seu reinado de 468-461 a.C. Os anais dos Quatro Mestres datam em 661-654 a.C.

Esta Macha nos traz algo de novo e importante ela não só é a única mulher a estar na Lista dos Altos Reis da Irlanda como também fundou o que consideramos o primeiro hospital do mundo e esses interesses venho abordar a seguir.

Começando pelo fato dos reinados, onde Áed Ruad, filho de Badarn, Díthorba, filho de Deman e Cimbáeth, filho de Fintan, três netos de Airgetmar, eram, segundo a lenda irlandesa medieval e tradição histórica, Altos Reis da Irlanda, que governaram em rodízio, sete anos cada um. Cada um deles governou por três turnos de sete anos. Áed morreu no final de sua terceira temporada, por afogamento em uma cachoeira que foi nomeado Eas Ruaid, "cachoeira do vermelho" (Assaroe Falls, Ballyshannon, County Donegal), depois dele, Díthorba e Cimbáeth então reinaram cada na sua vez, consecutivamente no recomeço do cilco a filha de Áed, Macha Mong Ruad, exigiu governar no lugar do pai. O que podemos ressaltar para haver um maior estudo e curiosidade são as quantidades de anos e o número que são, 7 anos e 3 reis, por alto já sabemos que são números carregados de simbologia em todo ocidente, e também essa analise de que não houve uma hereditariedade direta como ocorria no medievo, onde o filho mais velho herdaria, nesse caso 3 primos governaram juntos o que deixa mais uma curiosidade de como funcionava a política da época.

Logo, em partes, funcionava da seguinte forma, havia três vezes sete garantias entre eles [ou seja]: sete Druidas, sete poetas, sete líderes militares [ou capitães] . Os sete druidas para queimar os encantamentos e aconselhar, os sete poetas para satirizar e denunciá-los, os sete capitães para ferir e queimá-los se cada um deles não desocupa-se a soberania no final de seus sete anos. E também para manter a [evidências da] justiça de um Estado soberano , a saber: das abundâncias das colheitas todos os anos, de não falhar na pintura dos tecidos de todas as cores e das mulheres para não morrerem no parto. Eram três rodízios cada homem na soberania , isto é, sessenta e três anos ao todo. E Áed morreu em seu último rodízio.

Havia de certa forma então uma legislação sobre esse funcionamento, era rígida e tentava garantir seu pleno funcionamento.

Com relação e Emain Macha a proposta etimológica que até então mais bate com o nome do local seria a história do broche, ela marcou para eles, os filhos de Díthorba, com o broche onde foi construído o palácio em sua honra. Assim marcado com o broche de ouro ["Eo Oir"] do pescoço [ou no pescoço], ou seja "Emuin" ou "Eomuin". "Eo" [
broche] de Macha do seu pescoço > ["Eo" e "muin" , broche e pescoço.] Todas palavras do irlandês antigo. Seguindo essa ideia nos oferece a lenda ou história que mais pode se aproximar do nome do local.


Modelo miniatura do Forte/Palácio em Emain Macha.

Entrada atual do Forte/Palácio para visitantes

O primeiro hospital do mundo

O palácio de Emain Macha foi construído com as seguintes distribuições:

- Emain Macha Craebruad (ramo vermelho) era o mais conhecido dos três grandes salões de Emain Macha. Tinha nove salas de teixo vermelho, paredes de bronze, e, futuramente, o apartamento do rei Conchobar, tinha um teto de prata e colunas de bronze coberto com ouro.
- O segundo corredor, Craebderg (ramo corado) continha o tesouro que continha, entre outros objetos de valor, as cabeças dos inimigos mortos.
- A terceira sala, Tete Brec (tesouro cintilante) guardava-se as armas e armaduras.
- Armas não eram para ser levados para Emain Macha e no terreno da fortaleza continha um hospital para os guerreiros feridos e doentes.

Esse hospital é considerado o mais antigo do mundo. Historiadores dizem que é uma das primeiras instituições para cuidar dos doentes sendo fundada em 300 a.C., pela que alguns chamam Princesa Macha em Emain Macha (Forte Navan), que é homenageada por uma estátua fora do hospital Altnagelvin em Derry. Esse primeiro hospital foi chamado Broin Bearg (House of Sorrow).

Estátua em homenagem a Macha.

As leis Brehon da antiga Irlanda foram bastante detalhadas nas especificações para hospitais ou locais para o doente. Eles devem estar livres de sujeira e devem ter quatro portas - norte, sul, leste e oeste, deve haver um fluxo de água que atravessa o meio da pista. Cães, tolos e mulheres que repreendem/falantes devem ser mantidos longe do paciente, para que ele não  possa ter com o que se preocupar.

Segue trecho de um livro, A social history of ancient Ireland, de livre tradução minha, do autor Patrick Weston Joyce 1827-1914:

"A idéia de um hospital, ou uma casa de algum tipo para o tratamento do doente ou ferido, era familiar na Irlanda desde os tempos pagãos remotos. Em alguns dos contos do Tain , lemos que no tempo dos Cavaleiros do ramo vermelho havia um hospital para os feridos em Emain chamado Bróinbherg [ Brone - verrig ] , a 'casa de tristeza'. Mas chegando aos tempos históricos, sabemos que havia hospitais em todo o país, muitos deles em conexão com mosteiros. Alguns foram para pessoas doentes, em geral, alguns eram especiais, como, por exemplo, as casas de leprosos. Hospitais monásticas e casas de leprosos são muito frequentemente mencionados nos anais. Estas foram as instituições de caridade, apoiados por, e sob a direção e gestão de autoridades monásticas.

Mas havia hospitais seculares para o uso comum do povo da tuath ou distrito. Estes vieram sob o conhecimento direto da Lei Brehon, que estabeleceu certas regras gerais para a sua gestão. Pacientes que estavam em posição de ajudar eram esperados para pagar pela comida, medicina e atendimento médico. Em todos os casos a limpeza e ventilação parecem ter sido bem atendidos, pois foi expressamente previstas na lei que qualquer casa em que pessoas doentes foram tratados devem estar livres de sujeira, devem ter quatro portas abertas, e deve ter um fluxo de água atravessando o local através do meio do piso. Estes regulamentos, áspero e pontuais, como eles eram, estavam na direção certa, aplicados também para uma casa ou um hospital privado mantido por um médico para o tratamento de seus pacientes. O regulamento sobre as quatro portas abertas e o fluxo de água pode-se dizer que é presente por milhares de anos no tratamento ao ar livre.

Se uma pessoa feriu outro ou causou ferimentos corporais de alguma forma, sem justificativa, ele seria obrigado pela lei Brehon a pagar "a manutenção do doente", ou seja, o custo de manutenção do homem ferido em um hospital, no todo ou em parte, de acordo com as circunstâncias do caso, até a recuperação ou a morte, o que inclui o pagamento dos honorários do médico, e um ou mais atendentes de acordo com a posição da pessoa lesada. Além disso, era o dever do agressor verificar se o paciente foi devidamente tratado - se eram as habituais quatro portas com um fluxo de água, com a cama devidamente equipada e para que as ordens do médico fossem rigorosamente realizadas -, por exemplo, o paciente não era para ser colocado em uma cama proibida pelo médico, ou ser alimentado com determinado alimento proibido , e que "cães e tolos e pessoas ruidosas" deveriam ser mantidas longe do paciente para que ele não possa se preocupado com nada. Se o agressor negligenciasse esse dever corria o risco de penalidade.

E os hospitais de leprosos foram criados em várias partes da Irlanda , geralmente em conexão com mosteiros , de modo que se tornou muito comum, e muitas vezes são notados nos anais."

Espero que tenha sido de interesse de todos o texto, aguardo críticas e comentários de todos.
Gostaria de deixar aqui um link também sobre os Hostels públicos que os celtas, e neste casa principalmente os irlandeses criaram, pois todos devemos lembrar que a hospitalidade é uma virtude muito apreciada pelos celtas. Link :(http://www.libraryireland.com/SocialHistoryAncientIreland/III-XVII-10.php)

Referências bibliográficas:












Peço perdão não me estender as outras fontes, fico a disposição de quem quiser. AWEN!

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Magnus Clemens Maximus ou Macsen Wledig Pt. 2

O Sonho de Macsen Wledig (Breuddwyd Macsen Wledig)




Como havia dito no post anterior falarei mais sobre a lenda. Seguirei com um resumo e alguns comentários.


Nosso Macsen Wledig, a figura histórica Magnus Macsenus ou Magnus Maximus é a base para uma série de lendas galesas e inglesas  De acordo com Geoffrey de Monmouth ele era o rei dos britânicos após a morte de Otávio, durante o reinado do imperador Constantino I.

O Mabinogion fala que Macsen Wledig se casar com a filha de um Chefe (governador) da região de Caernarfon. Embora ficcional, a história tem um grau de base de fato, como vimos na publicação anterior.

O conto começa com Macsen Wledig, imperador de Roma, caindo em um sono profundo depois de ir à caça. Ele sonha com uma viagem por rios, montanhas e vales. Eventualmente, ele encontra uma grande cidade com um vasto castelo, e uma enorme frota de navios.
Ele embarca no maior navio, que navega ao longo de mares e oceanos antes de chegar a terras maravilhosas. Ele trata de um castelo com um salão coberto de ouro, prata e pedras preciosas. Sentado estão dois jovens jogando xadrez, vestido com cetim preto.
Em outra parte do salão há um homem sentado em uma cadeira de marfim, e uma moça de grande beleza. A moça se levanta de sua cadeira, e o homem a abraça e o imperador Macsen Wledig acorda neste momento.
Consumido por amor à donzela que vistes em seu sonho, Macsen Wledig monta em seu cavalo e sai em disparada para Roma. Em sua chegada, ele se retira, optando por dormir ao invés de se ocupar com os membros e problemas da casa. Em cada um dos seus sonhos ele vê a bela donzela.
Um dia, um mensageiro vem a sua câmara e diz a Macsen Wledig que as pessoas estão se voltando contra ele, porque não recebem nenhuma mensagem nem resposta dele. Os sábios de Roma são trazidos perante o imperador, e ele diz-lhes de seu sonho. Os sábios o instruem a enviar mensageiros por três anos para três partes do mundo em busca da bela donzela.
Depois de um ano os mensageiros retornam sem nenhuma notícia, deixando o imperador triste. O rei dos romanos o sugeriu de ir a procura a partir de onde o sonho aconteceu. A partir daí, 13 mensageiros seguem jornada para as altas montanha na região proposta, e no topo de uma destas eles vêem a terra do sonho do imperador.
Eventualmente, eles vão para a grande cidade e seu castelo. Eles atravessam o mar no grande navio, que os leva a Britânia Andam até que eles chegam a Snowdon. "Eis", disseram eles, "a terra acidentada que nosso mestre viu." E continuam por Anglesey e Arvon.
Em Aber Sain eles encontram um castelo na foz do rio. Entram no castelo pelo corredor do sonho do imperador. Vêem os dois jovens jogando xadrez, um homem esculpindo peças de xadrez e a donzela na cadeira de ouro.


Snowdon

Os mensageiros proclamaram a donzela como imperatriz de Roma. Ela diz a eles que ela não irá a Roma, se Macsen Wledig a ama, ele deveria vir até ela.
Então, os mensageiros, logo retornam a Roma para dizer ao imperador sobre suas descobertas. Com seus guias, Macsen Wledig vai para a Britânia encontrar sua donzela em Aber Sain, o castelo de seu sonho. Ele vê Kynan e Adeon jogando xadrez, e seu pai Eudav filho de Caradawc, esculpindo peças de xadrez. Em seguida, ele espia a donzela, de nome Elen Luyddawc, de seu sonho.
"Imperatriz de Roma", diz ele, "Salve!" E o imperador joga os braços em volta de seu pescoço, e naquela noite ela se torna sua noiva. No dia seguinte, ela pergunta pela Britânia para o seu pai, e os três castelos que seriam feitos para ela, o maior em Arvon. O imperador concede isso, os outros castelos são construídos em Caerleon e Carmarthen.


Ilustração do Codex Manesse

O imperador permanece por sete anos, construindo castelos e estradas na Britânia, o longo tempo gasto fora de Roma condiz com o banimento de retornar, e ele perde o seu alto cargo.
O novo imperador ameaça a Macsen em uma carta. O imperador deposto parte para Roma com o seu exército, derrotando a França e Borgonha no caminho. No entanto, ele passa um ano fora de Roma. Eventualmente, o imperador está acompanhado por Elen e seus irmãos guerreiros, e Kynan e Adeon, filhos de Eudav.
Kynan e Adeon constroem uma escada para cada quatro homens de sua facção. Enquanto o imperador rival para sua luta para comer, os britânicos rompem as muralhas da cidade.
O novo imperador, incapaz de armar-se a tempo, é morto, juntamente com muitos outros. Durante três dias e noites os britônicos lutam para retomar o castelo e a cidade, sem o conhecimento Macsen Wledig.
Macsen queixa-se com Elen que seus irmão poderiam não ser capazes de conquistar a cidade. Ela responde "os jovens mais sábios no mundo são meus irmãos. Vá até lá pedir a cidade a eles, e se for de sua posse terás de bom grado."
Os portões de Roma são abertos, e o imperador Macsen Wledig mais uma vez está sentado no trono, com todos os homens de Roma se submetendo a ele.
O imperador dá a Kynan e Adeon o direito de vencer qualquer região do mundo que pode desejar para governar. Os irmãos conquistaram terras, castelos e cidades da região Amorica da Gália, que contém a península da Bretanha, matando homens e poupando as mulheres. Depois de muitos anos de Adeon retorna à Britânia deixando Kynan para governar o resto.
Kynon e os seus homens, em seguida, cortaram as línguas das mulheres, para impedi-las de ter seu discurso corrompido. Devido ao silêncio das mulheres da Amorica, os homens da região ficaram conhecidos como os britões.



Sarn Helen

Peço desculpas por qualquer falha no texto acima, fiz livre tradução do resumo do livro que obtenho.

Como há de se reparar a lenda não é de total compatibilidade com os fatos históricos. Venho reforçar o porque desta lenda ter sido tão reescrita e recontada. Temos que lembrar que em pleno século IV apoiar o cristianismo, como Magnus e sua esposa Elen o fizeram, no império do ocidente não era de fácil acordo, ainda menos com a força como eles o fizeram, no século IV não existiam ordens religiosas e o auxilio na disseminação do cristianismo para seus crentes era de boa ajuda e bem vinda. Logo temos a histórica de Macsen ou  Magnus contada no Historia Regum Britanniae de Godofredo de Mounmouth (Geoffrey of Monmouth), no Peniarth MS 16, no Livro Vermelho de Hergest (Llyfr Coch Hergest) e no Livro Branco de Rhydderch (Llyfr Gwyn Rhydderch). Não me recordo de outros textos, mas esses já mostram que o conto teve grande repercussão tanto para a história de Gales quanto para a do cristianismo celta.

Para Gales essa referência românica como parte de sua história trazia-lhes prestígio, pois como sempre os próprios Druidas reconheciam o conhecimento como um conceito de alto valor, e graças a Roma o acesso ao mesmo era abrangente. No cristianismo a escrita era uma dádiva de qualquer nível de sacerdócio o que para o Druidismos não parecia ser, ela permitia o acumulo e acesso a conhecimentos que poderiam ser perdidos se não o fossem.

A igreja celta antiga e medieval, graças a alta conversão de Druidas, adotou o método de estudos destes antigos sacerdotes pagãos. Se transformaram numa esponja de conhecimento, transcreveram e copiaram tudo o que podiam, e em pleno século VI já eram os maiores Helenistas da Europa, e são o primeiro povo a escrever um poema em língua vernácula.

Assim dada essa acentuada importância para a influência romana e cristã, há de ressaltar a coragem única, bravura e história do povo galês. Exaltando a astucia, inteligência e sabedoria de um povo que ajudou a fazer um comandante, imperador de Roma.


Referências bibliográficas:


Breudwyt Maxen Wledic / edited by Brynley F. Roberts. Dublin : School of Celtic Studies, Dublin Institute for Advanced Studies, 2005.

http://digidol.llgc.org.uk/METS/RHY00001/physical?locale=cy (Fac-Símile do Livro Branco de Rhydderch)

http://www.vanhamel.nl/wiki/Aberystwyth,_National_Library_of_Wales,_Peniarth_MS_16

http://www.rhyddiaithganoloesol.caerdydd.ac.uk/en/ms-page.php?ms=Jesus111&page=161v (Edição diplomática do Livro Vermelho de Hergest)

http://www.llgc.org.uk/?id=llawysgrifaupeniarth (Referências sobre manuscritos galeses)

http://en.wikipedia.org/wiki/Historia_Britonum

MONMOUTH, Geoffrey de  Historia de los reyes de Britania, Alianza Editorial, Espanha, 2003

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Magnus Clemens Maximus ou Macsen Wledig Pt. 1

Conhecem Magno Maximo?


Este personagem é curioso por ser um usurpador do trono do império Romano, incentivador do cristianismo, exaltador da Britânia, divisor de águas acreditando que a partir dele começa a grande crise do império Romano com um detalhe importante governou somente por 5 anos transferindo a capital do Impérios para Trier (Tréveris) na atual Alemanha. Ele e sua mulher St. Elen (Santa Helen de Caernarfon, Elen Luyddog ou "Helen of the Hosts")  são tão importantes para o cenário cristão e cultural da formação do País de Gales medieval que ganham o direito de se tornarem lenda, em "Breuddwyd Macsen Wledig" - O sonho de Maxen Wledig um conto que foi escrito sendo retirado da tradição oral por volta dos séculos XII e XIII e por Godofredo de Monmouth (Geoffrey de Monmouth) no livro Historia Regum Britanniae - História dos Reis da Bretanha. No conto galês ele, sonha se tornar imperador, e se transforma em imperador graças ao exercita britânico (galês) e mantem esse cargo por anos. E Elen Luyddog que é canonizada pelo povo, como a maior parte dos santos de tradição celta não são canonizados pela igreja, funda várias igrejas no século IV d.C. e fez-se amiga do famoso St. Martin of Tours.


Igreja dedicada a São David e Santa Elen.

Um pouco da história de Magno


Moeda romana com busto de Magno Clemente Maximo



Imperador romana do Ocidente (383-388 d.C.) que usurpou o poder durante o reinado de Graciano e governou sobre a Britania, Gália e Hispania. Seu nome completo era Magno Clemente Máximo. Originário de Hispania, poucos dados se conhece sobre seus primeiros anos de vida. Sua carreira militar estevo influenciada por sua relação com Teodosio o Velho, magister militum por Gallias desde 369 pai do futuro imperador de oriente Teodosio I. Máximo serviu com Teodosio na Récia desde el 370 até 372, lugar o qual este havia sido enviado para frear as incursões dos alemães. No ano de 373 Teodosio foi enviado por Valentiniano I a África para conter a rebelião de Firmo e para investigar as atividades criminais de Romano, comandante general de África. Máximo acompanhou a Teodosio, tendo se engarrado de trabalhar com Gildo, o irmão de Firmo, ainda leal a Roma. Teriam como objetivo a prisão de Vicentio, o vicarius da África e cúmplice de Romano. Máximo, por isso entãoa, exercia o cargo de deputatus, ou seja, um alto oficial elegido pessoalmente pelo imperador para ajudar os grandes generais na tarefa de prender conspiradores.
Em 376 auxilio no Danubio como dux Moesiae secundae, onde ajudou a Lupicino, o magister militum por Thracias, no assentamento dos godos no território imperial. Em 380 foi nomeado Comes Britanniae. No aon de 381 protagonizou uma série de audaciosas vitórias sobre os pictos e os escotos, motivo pelo qual foi aclamado imperador em 383 pelas mãos de suas tropas, as quais mostraram uma especial antipatia a Graciano devido a sua falta de qualidades militares e as preferencias mostradas pelos bárbaros assentados no Império. Depois do nomeamento, Máximo desembarcou na Gália buscando a rápida confrontação com Graciano, quem não tardou em sair ao seu encontro, mas antes de enfrentar esta batalha foi abandonado por seus homens por volta de Paris e teve que fugir para a Itália para salvar sua vida. Máximo enviou depois a Andragathio, seu magister equitum, que o alcançou e matou em Lugdunum (atual Lyón) em 25 de agosto de 383.
Depois do assassinato, Máximo instalou sua corte em Tréveris (Trier), desde de onde exercia o controle sobre Britania, Hispania e Galia. Nem Valentiniano II nem Teodosio I intervirão em tal decisão. No ano de 384 Máximo invadiu a Itália com a ideia de despojar a Valentiniano II de seus domínios. Ambrosio, obispo de Milão, foi enviado como embaixador ao usurpador, quem exigiu a rendição de Valentiniano. A comitiva permitiu ao magister militum, Bauto, intensificar os passos pelos alpes e enviar a Valentiniano II a Constantinopla, onde buscou o amparo de Teodosio I. Em 384 conseguiu um acordo por que Máximo era reconhecido augusto sobre la Galia, Britania, Hispania assim como na África, a troca de permitir a volta de Valentiniano II a Itália. Naquele momento Máximo nomeou herdeiro e co-regente a seu filho Flavio Víctor.
Máximo, católico fervoroso, manteve uma política intervencionista nos assuntos religiosos, sobre todo na polemica priscilianista que se vinha gestando desde anos. Prisciliano, o bispo de Ávila, havia sido acusado de maniqueísta por Hidacio de Mérida e Itacio de Ossobona no concilio de Zaragoza do ano de 380. Eles foram primeiro a Graciano, que acabou por derrubar a convicção pressionados por Dâmaso de Roma e Ambrosio de Milán. Se apresentarão também ante Máximo, que terminou por firmar a condenação a morte de Prisciliano e seus seguidores no Sínodo de Burdeos do ano 384.
Por outro lado, Máximo não pode evitar o avanço dos pictos e escotos sobre o muro de Adriano, território que os romanos perderam definitivamente. Movido por sus ânsias de governar sobre todo o território ocidental, rompeu o acordo de 384 e invadiu Italia com a desculpa de querer defender o catolicismo, já que Valentiniano II era ariano. Em 387 alcançou o Vale do Pó, com o que novamente forçou a fuga a Constantinopla de Valentiniano II e sua mãe Justina com a ajuda do imperador do oriente. Teodosio I ajudou a este com um grande exército, formado em sua maior parte por francos, saxões e hunos. Máximo foi vencido primeiro em Siscia, as margens do rio Save, e depois em Poetovio. A pesar da derrota, Máximo conseguiu fugir para Aquileia, onde foi traído por suas tropas e morto pelas mãos de Teodosio I em 28 de agosto do ano 388.
A lenda
Segundo a História dos reis da Bretanha de Godofredo de Monmouth (base para muitsas lendas inglesas e galesas), foi Rei da Bretanha. De acordo com o relato do Mabinogion Breuddwyd Macsen (O sonho de Macsen Wledig) la esposa de Máximo era la filha de um poderoso chefe bretão de Segontium da região de Caernarfon ao norte de Gales, conhecida como Elen ou Elen Luyddog (Elena, também conhecida como Saint Helen of Caernarfon ou Elen of the Host). A Máximo se atribui a iniciativa da colonização da Península Armórica que realizaria com os soldados que trouxe da Ilha bretã.



Herança



O destino de sua família nos é desconhecido ainda que pareça certo que ademais de sua esposa e filhas sobreviveu sua mãe, perdoadas por Teodosio, e é possível seguir o rastro de alguns de seus descendentes.
Seu filho e colega no trono Flavio Víctor foi assassinado pelo general Arbogastes, pouco depois de seu pai por ordem de Teodosio.
Seu irmão Marcelino, que já ocupava algum posto importante durante o governo de Graciano, serviu as ordens de seu irmão  morrendo provavelmente em alguma das batalhas lideradas contra Teodosio.
Sua filha Severa nos é conhecida por uma inscrição da época da alta idade média, proveniente do Galês, chamada o Pilar de Eliseg, ela, Severa aparece como a esposa de Vortigern, Rey dos bretões. Seus descendentes dariam lugar a dinastia Gwerthernion, que governaría o reino de Powys en Gales.
Outra de suas filhas, de nome desconhecido, foi esposa de Ennodius, pro-consul Africae em 395.
Seu neto, Petrônio Máximo, foi outro imperador de final trágico, depois de governar Roma durante 77 dias, morreu apedrejado em 24 de maio de 455.
Entre outros possíveis descendentes se encontram Anicius Olybrius, imperador em 472, lo mesmo que vários cônsules e bispos como São Magnus Felix Ennodius (bispo de Pavía em 514-21).
No entanto, a parte de Marcelino, de Flavio Víctor e de um tal Comes Víctor, que poderia ser um tio seu, os outros nomes citados são só suposições gratuitas, pois não estão comprovadas de todo historicamente, ainda que boa parte se baseie em tradições posteriores.


No próximo post voltarei com uma entrada a mais na literatura e sociedade.

Referências bibliográficas:


Breudwyt Maxen Wledic / edited by Brynley F. Roberts. Dublin : School of Celtic Studies, Dublin Institute for Advanced Studies, 2005.

BROWN, P. The world of late Antiquity: from Marcus Aurelius to Muhamed. (London; Thames & Hudson, 1971).

CASTAGNOL, A. Le Bas Empire. (París; Colin, 1991).

MAIER, F.G. Las transformaciones del mundo mediterráneo, s III-VIII. (Madrid; Siglo XXI, 1972).

TEJA, R. La época de los Valentinianos y de Teodosio. (Madrid; Akal, 1990).

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Quem eram os celtas Gálatas?

Os celtas que todos esquecem :


Muita coisa é escrita a respeito dos celtas localizando o tema apenas em torno de tribos que povoaram as ilhas britânicas e o norte da França, significa dizer falando essencialmente sobre os gauleses, galeses, pictos, bretões e escotos.
Ao final muitos esquecem por completo de outras levas de migrações célticas para regiões bem mais distantes no plano geográfico do que estes estreitos limites definidos entre as ilhas britânicas e o norte da França.


Um belo exemplo são os Gálatas, um povo oriundo originalmente da Gália ( atual França ) a partir de uma imigração para a região central e norte da antiga Ásia Menor ( atual Turquia nas cercanias de Ancara ), iniciada se supõem lá por volta do ano 280 a.C, motivada para escapar dos germanos com quem travavam enormes batalhas por conta de 
disputa de domínio territorial.




Um breve panorama:


Quando os celtas surgem pela primeira vez nos registros históricos, por volta de 500 a.C., aparentemente eles já haviam ocupado grande parte da região dos Alpes e as áreas imediatamente ao norte, na França central, e em partes da Península Ibérica. Tradicionalmente, esses primeiros celtas costumam ser amplamente associados à cultura Hallstatt da Idade do Ferro européia. As escavações revelam tumbas ricamente adornadas, tidas como pertencentes aos chefes tribais ou às classes reais, e associadas a uma série de centros de defesa. Esses ‘principados’ nos fornecem evidências de comércio com o Mediterrâneo clássico, especialmente com a colônia grega de Massalia (Marselha). A partir do quinto século a.C., num território que se estende do leste da França até a Boêmia, surgiu uma nova cultura celta, que recebe o nome do sítio arqueológico de La Téne na Suíça, onde foi identificada pela primeira vez. Também esta fase se caracteriza por sepultamentos esplendidamente decorados, contendo evidências de contato com o mundo clássico (cidades etruscas, através dos Alpes). Pouco depois de 400 a.C., estes celtas La Téne irromperam através dos Alpes, invadindo e estabelecendo-se no vale do Rio Pó e saqueando Roma por volta de 390 a.C. Os romanos os conheciam como Galli, gauleses – um termo posteriormente aplicado especificamente aos celtas da França. Outros migraram através dos Bálcãs, atacando a Grécia e saqueando Delfos ,possivelmente em 279 a.C. Conhecidos pelos gregos como Keltoi ou Galatae, alguns deles cruzaram o Helesponto e instalaram um reino na Turquia Central (a Galácia). (Simon James, Exploring the World of the Celts)

Conforme nos ilustra Simon James no tópico anterior, os celtas promoveram incursões regulares às terras circunvizinhas, culminando com a expansão dos territórios por eles povoados. Partindo de suas terras na Europa Central, os celtas estabeleceram-se nas Ilhas Britânicas (700 a.C.), na Península Ibérica (600 a.C.), no norte da Itália (400 a.C.), saquearam Roma (390 a.C.), cruzaram os Cárpatos (310 a.C.), saquearam Delfos na Grécia (279 a.C.), fundaram os reinos celtas da Galácia na Ásia Menor e de Tylis nas margens do Mar Negro e quase certamente se estabeleceram ao longo do Rio Don, na Ucrânia – a região é ainda hoje conhecida como Galácia. Essas diferentes ondas migratórias não fazem parte de um processo articulado visando a criação e expansão de um império centralizado como o dos romanos: são a ação natural de tribos independentes, em busca de subsistência pela ocupação de terras férteis, e para quem a guerra e a conquista era um modo de vida.



Os Gálatas



Mapa com a localização de algumas províncias romanas, incluindo a Galácia.


A maior parte dos 20.000 Celtas que seguiram Leonorios e Lutorios até a Trácia, pertenciam a três tribos, os Tectósagos, Trocmos e Tolistobogos. Cerca de metade do grupo eram mulheres, crianças e pessoas idosas, sugerindo serem migrantes em busca de terra para colonizarem e que a razão pela qual romperam com Breno, era porque ele estava mais interessado em pilhar. Com o convite do rei Nicomedes da Bitínia (agora no Noroeste da Turquia), Leonorios e Lutorios atravessaram a Trácia até a Anatolia em 278-277 a.C., primeiro pelo Bósforo e depois pelos Dardanelos. Nicomedes estava preparado para deixar que os Celtas se fixassem, em troca dos seus serviços numa guerra com o rei seleucida (sírio) Antíoco I, que já controlava a maior parte da Anatólia, mas que a desejava na sua totalidade. Nicomedes nunca teve de cumprir a sua promessa, uma vez que Antíoco derrotou os Celtas em 275-274 a.C. na chamada Batalha dos Elefantes, perto das ruínas da cidade de Sardes. Antíoco, pela sua vitória ganhou o cognome de "Soter" (salvador). Os Celtas, no entanto, eram inquebrantáveis e forjaram uma nova aliança com o rei Mitridates I do Ponto (na costa do mar Negro), que lhes garantia o direito de se fixarem a este na Frígia, no centro da Anatólia. A oferta de Mitridates continha algum cinismo, uma vez que a Frigia nesse tempo pertencia ao reino dos Selêucidas. No entanto, Antíoco não conseguiu desalojar os Celtas e, numa batalha contra eles acabou per ser morto, em 261 a.C.

A área da colônia na Anatólia tornou-se conhecida como Galácia, do nome grego dado aos Celtas. Os Galatas não eram muito numerosos em comparação com a população nativa, que vieram a governar. No entanto, estes Celtas isolados resistiram à assimilação durante séculos. Mesmo mais tarde, no século IV d.e.c., São Jerônimo iria reparar que os Gálatas falavam a mesma língua que os Gauleses. Os Gálatas preservaram a forma de governo baseada nas suas três divisões tribais originais. Cada uma das três tribos estava dividida em quarto septs ou clãs, cada um deles liderado por um tetrarca (do grego, tetra, "quarto" ; arkhos, "chefe"). Cada tetrarca era assistido per um juiz, um general e dois generais-adjuntos. Os cargos talvez tenham sido hereditários embora, mais tarde, algumas tribos gaulesas elegessem os seus funcionários. Os doze clãs enviaram um total de 300 "senadores" para um concílio anual, que se realizou num altar nacional chamado Drunemeton ("arvoredo de carvalho"). Na Gália e na Grã-Bretanha os locais nemeton estão associados a druidismo, apesar de não existirem outras provas para a presença de druidas entre os Gálatas a não ser, talvez, que os juízes fossem druidas.


Foram encontrados relativamente poucos artefatos na Anatólia, provavelmente por não terem sido procurados. Um dos poucos sítios arqueológicos na Galácia, extensivamente escavado, foi Gordion, antiga capital do fabuloso rei Midas, da Frígia. Achados arqueológicos sugerem que Gordion foi ocupada pelos Gálatas, logo depois de 270 a.C. e tornou-se um próspero oppidum e centro de comercio (emporium), com construções monumentais e trabalhos de ofícios avançados. A ocupação de Gordion pelos Gálatas durou mais de um século, durante o qual foi duas vezes destruída a reconstruída, primeiro por atacantes desconhecidos no fim do século II a.C. e outra vez em 189 a.C., por um exercito romano chefiado por Mânlio Vulsão. A escassez de metal encontrado nas camadas da destruição, indica que os Romanos saquearam bastante a colônia antes de a incendiarem. Gordion foi finalmente abandonada a meio do século II a.C.


Apesar de terem sido encontrados poucos artefatos, as escavações mostraram que a principal cultura dos Gálatas se tornou rapidamente helenizada. Muitos deles podiam ler grego, que utilizavam para registrar alguns dos seus bens. Também sabemos, de fontes literárias, que os Gálatas davam nomes gregos aos seus filhos. O uso romano do termo Gallograeci para descrever os Gálatas parece justificado. Em questões religiosas, no entanto, mantiveram práticas celtas. Foi achada uma escultura com dupla face "Jano", semelhante a muitas encontradas na Europa celta, bem como três fossas com restos humanos e de animais, vítimas de medonhos rituais de morte, envolvendo estrangulação, decapitação e desmembramento.


Uma caveira humana mostrava sinais claros de que tinha sido exposta na ponta de uma estaca de madeira, uma prática bem documentada na Europa celta. Os escritores clássicos podiam não estar a exagerar, quando escreviam que muitas pessoas preferiam cometer o suicídio em vez de se tornarem prisioneiros dos Gálatas, com medo de serem vítimas de sacrifícios se não fossem resgatadas.


Durante quase cinqüenta anos depois da colônia inicial, os Gálatas viveram alternadamente pilhando os seus vizinhos e trabalhando como mercenários para esses vizinhos. Para evitar discussão entre eles, os Gálatas acordaram em zonas exclusivas para incursões, para cada uma das três tribos. Os Trocmos saqueavam à volta dos Dardanelos, os Tolistobogos as cidades gregas ricas da costa jônica e os Tectósagos concentravam-se no interior da Anatólia. Criaram-se taxas especiais nas cidades gregas da costa, para resgatar prisioneiros que eram levados nestas incursões, sendo bem conhecido o destino dos não resgatados. O rei Eumenes I de Pergamo foi um dos vários soberanos que manteve as suas terras livres de ataques dos Gálatas, dando dinheiro em troca de proteção. O seu sucessor, Atalo I (241-197 a.C.), que era mais firme, acabou com os pagamentos. Quando os Gálatas retaliaram com uma invasão, Atalo derrotou-os na batalha nas Fontes de Caicus em 240 a.C. Os Gálatas tentaram vingar-se aliando-se com o rei selêucida Antíoco II contra Pergamo, mas Atalo conseguiu outra vitoria, sobre uma força dos Tolistobogos, perto do altar de Afrodite, não muito longe de Pérgamo. Em 232 a.C. os Gálatas fizeram a paz com Atalo, prometendo que paravam com os ataques a Pérgamo. O tratado de paz não chegou a pacificar completamente os Gálatas - que ainda atacaram Pérgamo outra vez depois da morte de Atalo, em 197 a.C. - mas a Anatólia Ocidental ficou muito mais segura dai por diante. Nas celebrações das suas vitórias, Atalo encomendou a construção de um monumento para a acrópole de Pérgamo. Este incluía muitas esculturas retratando guerreiros celtas, incluindo a famosa escultura do Gaulês agonizando, podendo ver-se ainda uma copia de mármore em Roma. A paz com Pérgamo não marcou completamente o fim das migrações celtas para leste. Em 218 a.C., Atalo recrutou outra tribo celta da Europa, chamada Aigosaiges, para lutar noutra guerra com os Selêucidas. Depois da guerra, Atalo fixou os Aigosaiges perto dos Dardanelos, mas estes rapidamente começaram a pilhar os seus vizinhos, chegando mesmo a sitiar Ilion - antiga Troia. Estas depredações terminaram, finalmente, quando o rei Prúsias da Bitínia, em 217 a.C., os massacrou a todos, mesmo as mulheres e as crianças.
No final do século III a.C., o grande período das migraçãos celtas chegou ao fim e na Itália, pelo menos, os Celtas já haviam começado a retirar.


Vizinhos poderosos impediam-nos de continuarem a avançar. Assim as migrações limitaram-se ao interior do mundo celta. A migração dos Helvécios em 59 a.C. já foi mencionada e por volta de 100 a.C. houve uma migração dos Belgas para a Grã-Bretanha. Provavelmente houve outras migrações não documentadas da Gália para a Grã-Bretanha, já que duas tribos britânicas, os Atrébates e os Parísios, tem nomes continentais.


A expansão celta foi certamente impressionante. No inicio do século III a.C. eram provavelmente o mais espalhado dos povos europeus. A maior parte do seu território fora ganha a custa de povos, que estavam ao nível do desenvolvimento social dos próprios Celtas. Este fato deve ter tornado relativamente fácil, para os povos conquistados, a assimilação da cultura e identidade celtas. Apesar de as incursões das civilizações clássicas do Mediterrâneo no mundo serem, por razoes obvias, as mais bem documentadas, os Celtas não lhes ficaram atrás. As civilizações mediterrânicas provaram ser na generalidade superiormente militarizadas. Embora pudessem atacar, pilhar e aterrorizar, os seus ganhos territoriais limitaram-se a uma faixa do território etrusco entre o rio Pó e os montes Apeninos, que os próprios Etruscos não mantiveram por muito tempo, e a parte central da Anatólia que se tornou conhecida como Gálacia. A Galácia era sem duvida uma colônia de sucesso, sobrevivendo como entidade independente por mais de 250 anos. No entanto, existiam fatores especiais em jogo na Anatólia que tornavam a sobrevivência da Galácia mais fácil. Durante a existência da Galácia, a Anatólia foi o teatro de competição entre duas grandes potencias e os Celtas eram sempre bem-vindos como aliados, devido a sua terrível reputação. Isto também travou a assimilação dos Gálatas pela população nativa, porque possibilitou à elite a manutenção do seu estatuto dentro da tradição celta, através de ataques e pilhagens. No entanto, a eventual assimilação da Galácia pelo mundo mediterrânico era, provavelmente, inevitável. A cultura celta pode ter sido atrativa para outros povos bárbaros, mas nunca iria ganhar muitos partidários no mundo mais sofisticado do Mediterrâneo. Era sempre mais provável que os Gálatas fossem assimilados pela civilização mediterrânica do que o contrário.


Em 191 a.C., Antioco III levou um exercito à Grécia mas foi rapidamente afastado pelos Romanos. No ano seguinte, os Romanos invadiram a Anatólia e obtiveram uma vitória decisiva sobre Antíoco na batalha de Magnésia (Manisa, na Turquia Ocidental). O exercito de Antioco, que incluía novidades como a cavalaria couraçada, elefantes de guerra e quadrigas com segadeiras, bem como um grande contingente de mercenários gálatas, não impressionou muito as legiões romanas. Como resultado da sua participação na batalha de Magnésia, os Galatas tornaram-se vítimas de uma expedição punitiva dos Romanos, em 189 a.C. Os Tolistobogos e os Trocmos foram derrotados juntos na batalha de Olimpo perto de Pessino. Os Romanos vitoriosos venderam para a escravatura 40.000 prisioneiros, incluindo mulheres e crianças. Ocuparam então o forte de Ancira (moderna Ancara), tendo antes derrotado os Tectósagos em Magaba, cerca de 50 quilômetros a noroeste. Os termos da paz dos Romanos incluíam a proibição dos raides dos Galatas a ocidente da Anatólia. Após esta derrota, um chefe de clã dos Tolistobogos, Ortiagon, tentou unir os Galatas numa monarquia de estilo grego, mas sem resultado.


Trecho de um sarcófago romano mostrando um batalha contra os Gálatas. (Observem o torque)


As relações entre os Galatas e os Romanos melhoraram depois de 189 a.C. Quando os Galatas recomeçaram os seus raides a Pérgamo em 167 a.C., os Romanos intervieram para impedir a retaliação de Pérgamo e ajudar a negociar o tratado de paz dois anos mais tarde, fazendo com que os dois lados acreditassem que tinham ganho. Os Galatas celebraram a paz sacrificando os prisioneiros de Pérgamo aos deuses, os outros celebraram com a escultura de um friso no seu altar a Zeus, expondo pilhas de armas celtas capturadas. Depois de 133 a.C., quando Pérgamo foi legado a Roma pelo seu ultimo rei Atalo III, os Romanos começaram a ver a Galacia como um valioso tampão contra invasões do Leste e, satisfeitos, encorajaram ataques galatas no Ponto e na Capadócia. Em 88 a.C., os Galatas sofreram um terrível golpe quando a maioria dos tetrarcas, a sua aristocracia reinante, foi massacrada pelo rei Mitridates VI do Ponto.

Mitridates era um ambicioso e despótico governante, que odiava Roma e os seus aliados celtas. Apanhando os Romanos de surpresa, ele capturou Pérgamo em 88 a.C. e massacrou a população romana residente. Isto talvez tornasse os Galatas mais prudentes em aceitar o convite de Mitridates para conversações sobre a paz: todos menos um dos 60 chefes que compareceram foram traídos mortalmente, tendo sido quebradas todas as leis de diplomacia e hospitalidade. Muitos dos que não tinham ido, bem como as famílias dos que compareceram, foram também perseguidos e mortos. No total, apenas três tetrarcas sobreviveram. No final do ano seguinte, os Romanos tinham obrigado Mitridates a retirar para o Ponto e restauraram a independência da Galacia, mas esta nunca recuperou totalmente da perda da sua classe governante. Mitridates continuou a ser uma influencia perturbadora na Anatólia até a sua derrota final, perante o general romano Pompeu, em 66 a.C. Os Galatas permaneceram sempre aliados leais a Roma.


Em 64 a.C., Pompeu reorganizou o governo dos Galatas, nomeando um rei (que no entanto continuava a ser chamado tetrarca) para governar sobre cada uma das três tribos. Através de técnicas de diplomacia matrimonial, o rei Deiotaro dos Tolistobogos cedo surgiu como o tetrarca dominante e tornou-se, para os Romanos, o único governante da Galácia.
Deiotaro fora um dos três tetrarcas que sobrevivera ao terror de Mitridates. Quando a guerra civil começou entre Cesar e Pompeu, em 49 a.C., Deiotaro apoiou lealmente o seu antigo patrono. Ele sobreviveu à derrota de Pompeu apenas porque tinha um bom advogado, Cícero, para discutir o seu caso no Senado. Mais tarde, Cícero queixou-se que Deiotaro se revelara muito avarento no que dizia respeito ao pagamento dos seus serviços. Deiotaro parecia ter uma certa habilidade para escolher o lado perdedor nas guerras civis romanas, porque mais tarde apoiou Brutus contra Marco Antonio, no entanto, conseguiu sobreviver morrendo de velhice na cama. O ultimo rei celta da Galacia foi o filho de Deiotaro, Deiotaro II, que sem sombra de duvida, provou ser o seu filho, quando apoiou Marco Antonio contra Octávio, o futuro imperador Augusto, na ultima guerra civil da Republica romana. Deiotaro II foi brevemente sucedido por um nativo da Anatólia, Amintas. Quando morreu em 25 a.C., a Galacia era uma anexação pacificada e tornou-se uma província romana. Nos anos que se seguiram ao ataque devastador de Mitridates, os Galatas tinham-se tornado cada vez mais romanizados no seu modo de vida. Deiotaro I tinha mesmo introduzido práticas romanas de administração estatal e o modo de treino dos legionários para o seu exercito. Estas medidas, juntamente com o desenvolvimento da centralização de uma única monarquia para as três tribos, levaram de modo fácil e indolor para todos a assimilação final dos Galatas no sistema imperial de Roma. Estes mantiveram a sua identidade por muito tempo, sob o domínio romano. Mesmo mais tarde, no século IV d.e.c., São Jerônimo iria relatar que os Galatas falavam a mesma língua que os Gauleses. Por quando tempo continuaram não se sabe, mas deve ter desaparecido antes do século VIII, visto que o nome Galácia deixara de ser usado.


Peço desculpa pelo longo post espero que gostem. /l\


Referências bibliográficas:

ARNOLD, B. e GIBSON, D. B. Celtic Chiefdom, Celtic State: Cambridge, 1995;
DAVIES, J. A. The Celts: Prehistory to the Present Day: Londres, 2000;
KING, A. Roman Gaul And Germany: Londres, 1990;
RANKIN, D. Celts And the Classical World: Londres, 1987.
François Le Roux, Christian-J. Guyonvarc’c, A Civilização Celta.
http://es.wikipedia.org/wiki/Idioma_g%C3%A1lata