História do poema
Pangur Bán é um poema em irlandês antigo, escrito no século VIII em torno da Abadia de Reichenau. Foi escrito por um monge irlandês e seu gato é nomeado "Pangur Bán", "Pangur = Batán, Bán = branco". Embora o poema seja de autoria anônima, possui semelhanças com a poesia de Sedulius Scottus, o que fez vários estudiosos especularem que Sedulius seria o autor. Em oito estrofes de quatro linhas, o autor compara as atividades de seu próprio gato com suas atividades acadêmicas.
O poema está preservado no Reichenau Primer (Stift St. Paul Cod. 86b / 1 fol 1v) e agora mantido na abadia de St. Paul na Lavanttal.
O retângulo vermelho marca onde o poema foi escrito, reparem a diferença do tamanho dos textos.
Há um filme de animação de 2009 que se chama "The Secret of Kells", fortemente inspirada na mitologia irlandesa, sendo que uma das personagens secundários é um gato branco chamado Pangur Bán, que chega acompanhado o monge Aidan de Iona. Mais tarde no filme, a personagem Aisling, canto, lança um feitiço que lhe permite tornar-se temporariamente uma criatura fantasmagórica. O filme se inspira nesse poema para nomear o gato. https://www.youtube.com/watch?v=7VT3ewiaMys
Sua importância
Pangur Bán é um dos primeiros escritos em língua vernácula na idade média, ou seja, desde o final da antiguidade todo material produzido era em latim, muitos teóricos vão levantar a questão de que os primeiros escritos em língua vernácula são em línguas românicas o que não é verdade.
Porém, deve-se lembrar que o primeiro documento escrito em língua vernácula na Europa continental foi em uma língua românica, um texto redigido forçando um acordo com Carlos Magno quando é coroado imperador do Sacro Império Romano-Germânico no ano de 800, ou seja no começo do século IX e.a.
Em compensação o mais antigo escrito em gaélico irlandês é no manuscrito Würburg, e data de aproximadamente do ano 700 e.a. O gaélico irlandês antigo é datado desde o final do século VI até o séc. X.
Texto em irlandês antigo do século VII
Em galês dos séc. VI ao início do séc. XII temos alta produção de textos em galês antigo, muitos poemas e alguma prosa sobreviveram, embora alguns estejam inscritos em manuscritos posteriores, como, por exemplo, o texto de Y Gododdin que é considerada uma epopeia do século VI e.c.
Mas porque Pangur Bán se diferencia dos outros textos?
Pangur Bán é uma das primeiras poesias em língua vernácula na idade média em que se tem notícia, posteriormente as canções de Gesta, escritas em langue d'oïl - Francês antigo, e os trovadores com suas trovas, em langue d'oc - língua Occitana, que começam respectivamente nos séculos XI e XII. Assim esse texto apresenta o começo de uma tradição anterior na Irlanda e um grande afloramento em sua literatura.
O poema
Para conhecimento de todos seguem o poema em irlandês e uma tradução feita por mim onde mantive as rimas com uns problemas na métrica a se corrigir.
Pangur Bán
Messe agus Pangur Bán,
cechtar nathar fria shaindán:
bíth a menmasam fri seilgg,
mu menma céin im shaincheirdd.
Caraimse fos, ferr cach clú
oc mu lebrán, léir ingnu;
ní foirmtech frimm Pangur bán
caraid cesin a maccdán
Ó ru biam, scél gan scís
innar tegdais, ar n-óendís,
táithiunn, díchríchide clius
ní fris tarddam ar n-áthius
Gnáth, húaraib, ar gressaib gal
glenaid luch inna línsam;
os mé, du-fuit im lín chéin
dliged ndoraid cu ndronchéill
Fúachaidsem fri frega fál
a rosc, a nglése comlán;
fúachimm chéin fri fégi fis
mu rosc réil, cesu imdis.
Fáelidsem cu ndéne dul
hi nglen luch inna gérchrub;
hi tucu cheist ndoraid ndil
os mé chene am fáelid.
Cia beimmi a-min nach ré
ní derban cách a chéile
maith la cechtar nár a dán;
subaigthius a óenurán
Hé fesin as choimsid dáu;
in muid du-ngní cach óenláu;
du thabairt doraid du glé
for mu muid céin am messe.
Pangur
Bán (tradução nossa)
Eu e Pangur Ban, meu gato
Somos alegres em cumprir
nossas tarefas de fato
Caçar ratos é seu prazer
Caçar palavras a noite
toda é meu afazer
Melhor que o homem a
louvar
É com livro e pena se
sentar
Pangur que não tem má
vontade
Também prega sua simples
habilidade
É uma coisa alegre de ser
ver
Como contentes em nossas
tarefas podemos ser
Quando em casa sentamos e
encontramos
Ocupações para a mente de
ambos
Muitas vezes os ratos se
perdiam
Pois no caminho do herói
Pangur se atreviam
Muitas vezes meu
pensamento ansioso se definia
Tomando significados
naquela arapuca que me envolvia
Contra a parede ele define
seu olhar
Cheio de ferocidade,
afiado e dissimulado
Contra a parede do
conhecimento eu podia estar
E com minha pequena
sabedoria tentar empenhado
Quando um rato sai como
dardo de sua toca
O quão feliz é Pangur naquela
hora!
E da alegria que posso ter
Quando as dúvidas que
tenho, resolver!
Assim percorrem em paz
nossas tarefas
Eu e Pangur Ban, meu gato
Em nossas artes
encontramos felicidade
Eu tenho a minha e ele a
sua, somos gratos
Praticar todos os dias é o
que temos feito
Pangur perfeito em seus
negócios
Sabedoria dia e noite eu
recebo
Da escuridão para a luz
sem os ócios
Referências Bibliográficas
Carney, James (1979). Studies in Irish Literature and History, Dublín: Dublin Institute for Advanced Studies.
Greene, David; Frank O'Connor (1967). A Golden Treasury of Irish Poetry, AD 600–1200. London: Macmillan. Reprinted 1990, Dingle: Brandon
An Etymological Dictionary of the Gaelic Language