quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A vida das antigas mulheres Celtas

As mulheres Celtas


As Mulheres celtas eram distintas no mundo antigo pela liberdade, pelos direitos dos quais gozavam e a posição que detinham na sociedade. Comparando-as em contrapartida com os gregos, romanos e outros povos antigos, elas tinham bastantes liberdades de atividades e leis que as protegiam. É importante citar que na Idade do Ferro os celtas eram um povo patriarcal e a maior parte dos homens tinha o poder supremo na política e no lar. Apesar disso, as mulheres celtas antigas continuam a ser um exemplo inspirador de feminilidade do passado.

Impressões dos autores clássicos dizem muito sobre quão diferentes eram as mulheres celtas das mulheres com as quais os escritores estavam familiarizados. Diodoro da Sicília descreve as mulheres gaulesas como sendo "quase tão altas quanto os homens, e rivais na coragem". Amiano Marcelino faz uma descrição mais exaltada: "... um grupo inteiro de invasores não serão capazes de lidar com um [Gaul] em uma luta, caso chame sua esposa, ainda mais forte do que ele, com os olhos brilhando... quando ela incha seu pescoço e range seus dentes, equilibrando seus enormes braços brancos, começa a chover golpes que se misturam com chutes, como tiros lançados pelas cordas torcidas de uma catapulta". Embora exageradas as palavras de Marcelino, elas evocam umas imagens de mulheres formidáveis entre os antigos celtas.

Mulheres guerreiras e Rainhas celtas da antiguidade




As mulheres celtas da antiguidade atuaram tanto como guerreiras quanto governantes. Podiam aparecer tantas garotas como de garotos para lutar com espadas e outras armas. Uma das escolas de formação mais proeminentes na mitologia gaélica foi criada e guiada por Scathach (pronuncia-se "sca-hrah" ou "Scaía"), uma mulher guerreira que tem origem em uma região da hoje conhecida como Escócia. Ela treinou o maior herói da lenda irlandesa, Cúchulainn (pronuncia-se "coo-quesco-in" ou "coo-khull-in", com o "KH", como no lago escocês), o mais famoso de seus pupilos, logo após de seu longo treino, ele passou a lutar contra exércitos inteiros sozinho e a executar outros grandes feitos. A rival feminina de Scathach, Aife (ou Aoife), foi considerada uma das mais ferozes guerreiras vivas. Cada uma dessas mulheres possuíam um exército.

A prática de portar armas era relativamente comum entre as mulheres. Foram registradas mulheres que haviam tomado parte na batalha final contra Caio Suetônio Paulino, quando ele avançou sobre a fortaleza druida na ilha de Mona (atual Anglesey), localizada no atual País de Gales. Neste caso, elas parecem ter feito grande uso de táticas psicológicas, como gritar, dançar loucamente, e puxavam seus rostos, assustando os romanos o suficiente para mantê-los fora por um tempo.




Estátua de Boudicca


Embora a mais alta autoridade política fosse muitas vezes atribuída aos homens, haviam mulheres que ocasionalmente tornavam-se rainhas no poder e chefes militares. Boudicca (ou Boadicea) foi, e é, a mulher mais conhecida desta classe. Ela é homenageada no presente por liderar a última grande revolta contra os romanos na Grã-Bretanha. Quando seu marido morreu, Prasutagus, ela se tornou governante dos Iceni, uma tribo celta do sudeste da Grã-Bretanha. Prasutagus tinha estabelecido relações diplomáticas com os romanos após a invasão da ilha. Ele decidiu submeter à suserania romana, e em seu testamento, deixou uma parte de suas propriedades e poderes para os romanos, porém nomeou suas duas filhas adolescentes como suas herdeiras. Boudicca foi designada como regente até que elas chegassem a idade de governar.
Os romanos não levaram a sério a ideia de uma mulher no governo e procuraram tirar proveito dessa situação, eles acreditavam que essa poderia ser uma das fraquezas dos Iceni. Catus Decianus, o romano encarregado de recolher parte da herança de Roma, insultou os Iceni através de uma série de atos horríveis. Ele ordenou que suas tropas saqueassem os bens dos Iceni, chicoteou Boudicca em público, e ordenou que estuprassem as filhas de Boudicca repetidamente. Boudicca respondeu liderando uma revolta das forças de seu povo e a de várias outras tribos que tinham um ressentimento crescente com os romanos invasores. Os celtas rebeldes conseguiram assolar o centro administrativo romano de Londinium (Londres moderna) e saquearam duas outras cidades romanas antes de serem derrotados.
A capacidade de Boudicca de unir o seu povo em revolta era notável considerando uma propensão céltica, que era desestabilizadora, pois, sempre tentavam ganhar glória individual, um fator precipitante e consistente quando pensamos na queda da Europa céltica para a expansão romana. Apesar da força unificadora da liderança de Boudicca, a revolta foi de curta duração, e Boudicca morreu também no seu final, talvez por suas próprias mãos, a fim de evitar a captura.


(Pintrest)

A rainha Cartimandua foi outra notável líder feminina celta da Idade do Ferro. Ela governou os Brigantes, uma tribo do norte da Grã-Bretanha. Uma contemporânea de Boudicca, Cartimandua é lembrada mais como uma traidora do que como uma heroína por sua traição a Caradoc, o líder da resistência céltica do Oeste. Quando Caradoc veio a sua ajuda, Cartimandua agarrou-o e, posteriormente, o entregou em correntes para os romanos. Ela provavelmente fez isso por razões de conveniência política, na tentativa de manter o poder através do apoio de Roma.



Maeve


Na Irlanda, houve uma governante feminina como bem sabemos, Medb (ou Maeve), rainha de Connaught. Ela é mais lembrada por seu papel no “Táin Bó Cúailnge” (o ataque ao gado de Cooley). Medb, determinada a provar-se igual ao seu marido, liderou uma invasão ao reino de Ulster com a finalidade de alcançar um touro do mesmo valor que um animal que seu marido possuía. Embora ela tenha capturado o touro, acabou sendo frustrada por Cúchulainn e os animais escaparam. Medb pode ser uma figura odiosa nesta lenda, mas ela fornece um exemplo da Idade do Ferro de uma potente governante mulher celta. Sua autoridade era absoluta e sua palavra era regra, prevalecendo até mesmo sobre a de seu marido.

Papel da Mulher na Vida Pública





Embora a vida pública na Idade do Ferro Celta tenha sido em grande parte dominada pelos homens, as mulheres conseguiram desempenhar um papel proeminente também. Elas não parecem ter sido sistematicamente excluídas de qualquer ocupação. As mulheres poderiam se tornar druidas, incluindo sacerdotisas, poetas e curandeiras. Elas poderiam realizar negócios sem o consentimento ou o envolvimento de seus maridos. Elas poderiam servir como diplomatas; na verdade, uma mulher agiu como uma embaixadora no estabelecimento do tratado entre o general cartaginês Hannibal e o governante celta da tribo dos Volcas durante uma marcha contra Roma. Plutarco escreveu no século II que havia uma tradição de longa data, entre os celtas, das mulheres que atuavam como mediadoras ou juízas em disputas políticas e militares. Elas também eram conhecidas por ter desempenhado um papel de mediação similar em suas próprias assembleias tribais.


Casamento e os direitos da mulher dentro da lei




Os direitos pessoais da mulher e seus direitos dentro do casamento favorecem o testemunho da elevada estima a qual elas detinham na sociedade celta da Idade do Ferro. No geral, o casamento parece ter sido visto pelos antigos celtas como uma parceria entre homens e mulheres. Em contrapartida, o direito romano ditava que uma mulher era propriedade de seu marido. Apesar de Júlio César escrever que os homens celtas tecnicamente tinham o poder de vida e morte sobre suas esposas, as mulheres, no entanto, desfrutavam de muitas proteções legais. As mulheres não podiam se casar contra sua vontade. Elas podem ter sido autorizadas a escolher seus maridos, apesar de que as famílias foram, sem dúvida, envolvidas nas decisões de casamento. Casamentos Políticos, para obter uma aliança, eram comuns entre as mulheres da nobreza. Os sistemas de dote variavam entre os diferentes Grupos celtas, mas um costume comum era cada uma das partes levar uma soma igual de bens para o casamento e o montante combinado deveria ser deixado para acumular lucro. Após a morte de um parceiro, o outro vivo receberia sua parte original do dote e os lucros resultantes da mesma. Se o casal se divorciou, cada parceiro tem sua contribuição original e os seus lucros. Diferentes versões desta prática básica parecem ter existido entre os vários grupos celtas na Idade do Ferro Irlanda, País de Gales, Gália, e outras áreas.

Dentro do casamento, as mulheres foram autorizadas a possuir e herdar bens de forma independente. As mulheres casadas poderiam ter casos legais (amantes), sem o consentimento de seus maridos. A independência econômica das mulheres oferecia-lhes proteção em caso de divórcio ou morte do marido: uma situação muito diferente do que a das mulheres clássicas.





O divórcio era uma questão relativamente simples e podia ser solicitada por qualquer uma das partes. O historiador Jean Markale explica que isso foi porque o "casamento celta era essencialmente contratual, social, e não completamente religioso, mas sim com base na liberdade do homem e da mulher". Na Irlanda e na Escócia, existiam casamentos experimentais ao longo de todo o ano que poderiam ser dissolvidos se provassem que o mesmo era inviável. As mulheres divorciadas não eram desprezadas e foram sempre livres para se casar novamente. Os antigos celtas eram celtas polígamos e em determinadas regiões na Escócia, de acordo com César, especificamente poliandros, ou seja, as mulheres podiam ter vários maridos. Esta afirmação tem sido questionada, mas, poliandras ou não, as mulheres na sociedade celta antiga formam claramente um forte contraste com os seus contemporâneos em todo o mundo.

Tradução nossa*

Referências Bibliográficas


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King, J. (1998). Kingdoms of the Celts: a history and guide. London: Blandford Press.

Markale, J. (1986). Women of the Celts. (A. Mygind, C. Hauch, & P. Henry, Trans.). Rochester, Vermont: Inner Traditions International, Ltd. (Original work published 1972).

Matthews, J. (1988). Boadicea: warrior queen of the Celts. Dorset: Firebird Books.

Walkley, V. (1997). Celtic daily life. London: Robinson Publishing.

Wilde, L. W. (1997). Celtic women in legend, myth and history. New York: Sterling
Publishing Co., Inc.
Em breve tentarei postar sobre as leis matrimoniais.